quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Crítica de Cinema: Conan, o Bárbaro

Direção: Marcus Nispel
Roteiro: Howard McCain,Dirk Blackman
Elenco: Jason Momoa, Stephen Lang, Rose McGowan, Saïd Taghmaoui, Dolph Lundgren, Rachel Nichols.


Por CaioViana.
Conan: O Bárbaro é um filme problemático desde sua concepção, já que estabelece uma série de parâmetros que resolve não seguir ou, simplesmente, abandonar ao longo da projeção. Adaptado da obra de Robert E. Howard, a fita tem na direção Marcus Nispel, do igualmente fraco Desbravadores, porém, enquanto nesse o cineasta conseguiu ao menos manter uma linha narrativa, naquele se perde em idas e vindas, tendo ao centro de tudo o espectador, confuso.
Supostamente a produção tem uma história para contar, mas creio que se essa fosse retirada, o contexto permaneceria o mesmo, já que seus próprios roteiristas parecem não saber que rumo seguir. Aqui, tentamos acompanhar a história do garoto Conan (Leo Howard), um cimério que vê sua vila ser destroçada por Khalar Zym (Stephen Lang) e sua filha, Marique (Rose McGowan). Durante o ataque, Corin (Ron Perlman), o pai do bárbaro, é morto e o rapaz jura vingança contra seus algozes. Já adulto, Conan (Jason Momoa) ainda segue a trilha de Zym, que busca encontrar algum descendente da linhagem do sangue-puro a fim de ressuscitar sua esposa.
O principal problema de Conan: O Bárbaro reside em seu roteiro totalmente errático escrito por Thomas Dean Donnelly e Joshua Oppenheimer, dos pavorosos Sahara e Dylan Dog e As Criaturas da Noite, e Sean Hood, que não se sai tão melhor em desprezíveis continuações de Halloween, O Corvo e Cubo. Com um trio tão inspirado, era de se imaginar a bagunça que surgiria deste remake. O filme começa com uma narração em off que explica a história da região. Esse mesmo narrador volta a surgir em outro ponto, na transição do Conan criança para o adulto, e depois desaparece definitivamente, sem nunca sabermos quem ele é. Um defeito igual surge numa tribo bárbara que, em sua primeira aparição, revela-se capaz de recriar sons animalescos, mas quando esses se juntam ao vilão durante o restante da projeção, demonstram habilidade não só para falar normalmente, como jamais voltam a utilizar os tais ruídos. Qual a função desta atributo? Não interessa.
Ainda prosseguindo em alguns exemplos do péssimo script, encontramos Conan em seu treinamento com o pai, que cospe uma lição de moral sobre fogo e gelo, indicando que o jovem é explosivo demais e precisa saber lidar com a paciência. Esse caso, que poderia ser desenvolvido no decorrer da trama, simplesmente é ignorado e Conan permanece o mesmo guerreiro impetuoso de antes durante sua fase adulta. E em se tratando de argumentos que são esquecidos pelos escritores, mal reencontramos o cimério já crescido para percebermos que ele é seguido por um pequeno exército, mas sua origem sequer é explicada. Se ao menos Conan se mostrasse um líder consistente, pagasse aos homens ou parasse de abandoná-los a cada cinco minutos ao seu bel prazer, talvez engolíssemos o fato de ele manter seguidores tão fieis. Até mesmo em pequenos detalhes o trio de roteiristas consegue fazer besteira, como na cena em que o bárbaro se deixa ser preso, mas ao contrário de todos os outros bandidos, é mantido fora das celas e sem grilhões nos pulsos, permitindo que, na sequência, ele avance contra aqueles que efetuaram sua captura, matando um a um. Nessa mesma linha ainda temos a Máscara de Ossos que se mostra inútil quando utilizada, já que não confere qualquer poder ao seu dono, o vai-e-vem entre Conan e Tamara, a mocinha da obra, que no prenúncio do terceiro ato se separam e reencontram-se um sem-número de vezes a fim de criar drama e a absurda Cidade dos Ladrões que não faz qualquer esforço para esconder essa alcunha, e deixa as perguntas: se todos sabem que ali só vivem criminosos, por que ainda vão à cidade? E se o local não recebe visitantes, como diabos consegue manter seu sustento?
Com tantos absurdos, ainda somos obrigados a seguir personagens que entram e saem da narrativa sem um padrão lógico, diálogos expositivos que tentam traduzir rumos que não existem e combates que começam e terminam sem que consigamos notar, revelando que fluidez não é, definitivamente, uma palavra presente no vocabulário de Marcus Nispel. Grande parte desses defeitos incessantes estão na montagem problemática de Ken Blackwell, que não nos surpreende se pararmos para lembrar que ele é também responsável por tragédias cinematográficas tas quais Transformers e A Ilha. Por tanto tempo ao lado de Michael Bay, Blackwell parece ter aprendido direitinho a lição, que fica clara não só nos casos já citados, como no ridículo instante em que Conan, diante do braço-direito de Khalar Zym, deixa-o escapar apenas para, na cena seguinte, persegui-lo desabaladamente em um esforço que só deixa duas conclusões possíveis: ou seus criadores levaram ao pé da letra o ideário do “bárbaro burro” ou esses resolveram aplicar o conceito de barbárie em todos os aspectos da produção.
Com um design de produção composto por Chris August, que poderia soar interessante caso tivesse alguma lógica, percebemos mais falhas graves que se estendem também para a equipe de efeitos visuais que fazem uso de fundos verdes nitidamente falsos ou como no momento em que a câmera se lança num travelling sobre o monastério permitindo que notemos que se trata de uma maquete, já que todas as sacadas e áreas onde deveriam surgir pessoas estão vazias, numa terrível falta de esmero. Vejam também, por exemplo, o barco terrestre no qual o vilão e sua filha viajam: não só não impressiona como não tem nada de funcional. Supor que um líder experiente extenuaria seu exército só pra andar de lá pra cá numa construção imponente é patético Ah! Mas eu esqueci. Os filões de Khalar Zym jamais se cansam! O que pensar, então, sobre os escravos que Conan liberta usando de táticas que poderiam matá-los? Apesar de viverem no regime duro, esses homem e mulheres estão altivos e fortes, tendo apenas poeira presa ao corpo e, não só parecem bastante saudáveis para escravos, como as mulheres estão aptas a fornicar imediatamente com Conan e seu exército imediatamente após serem salvas.A mesma doença que acomete os figurantes do monastério, impedindo que eles saiam ao sol, repete-se nos portos onde Conan e Khalar Zym têm seu primeiro embate. Eles estão numa área obviamente populosa, afinal são portos, mas não há uma só alma viva ali, além dos protagonistas, é claro. O que dizer então das sequências de batalha criadas por Nispel? Os exércitos, seja de um lado ou de outro, não possuem qualquer estratégia, se resumindo em juntar todas as modalidades de combate já vistas no cinema, indo desde fileiras de arqueiros e cavalaria, até catapultas, bolas de fogo e infantaria que atacam, todos ao mesmo tempo, e não possuem uma divisão clara de suas unidades.
Já os atores se contentam em vestir arquétipos. Jason Momoa compõe um Conan ainda mais sem graça que aquele criado por Arnold Schwarzenegger no filme original. Se o ator austríaco já dava claras demonstrações do boneco de cera que seria ao longo da carreira, Momoa se resume a uma muleta de interpretação que consiste em encarar a todos com olhares enviesados. Stephen Lang, já se acostumando a personificar vilões desde Avatar, e Rose McGowan na pele da bruxa, também não fogem do lugar-comum. Enquanto o primeiro se resume a gritar todas as suas falas, a atriz faz uso de suas garras metálicas em toda e qualquer cena, numa tentativa desesperada de criar algum conceito para Marique. Se pararmos para observar que a maquiagem fornece pouco suporte para os intérpretes, o resultado é ainda mais desastroso. Como digerir que todos os bárbaros da fita têm dentes sujos e desgastados, enquanto seu elenco principal apresenta arcadas dentárias em perfeito estado? O único que se sobressai é Leo Howard, o jovem ator que perfaz o Conan criança. Ele parece ter sido a escolha perfeita para o papel já que consegue copiar todos os maneirismos de Momoa, traduzindo assim a linguagem corporal desse para a origem do personagem.
A trilha instrumental de Tyler Bates chega a empolgar em dados momentos, mas em outros, peca pelo excesso ou falta de criatividade, parecendo repetir elementos de tantas outras produções épicas e se juntando, organicamente, aos outros aspectos defeituosos do longa.


Nunca se pergunta se nossas ações seguem a um plano? – é o questionamento que Tamara faz a Conan numa pseudo-justificativa que Nispel e equipe tentam impor ao espectador no início do confuso terceiro ato. Conan: O Bárbaro é um filme sem qualquer consistência que jamais deixa claro para o seu público que rumo pretende tomar e, ainda por cima, se dá ao luxo de cobrar mais caro por um 3D invisível, já que é incapaz até de lançar objetos na tela, na forma mais clichê da tecnologia.
Durante a exibição, tive a impressão que a distribuidora incluiu legendas de diálogos que seus personagens nunca chegaram a pronunciar, o que me soa como uma tentativa desesperada de melhorar o produto final. Claro que meu inglês capenga não me permite chegar à conclusão com toda a certeza, por isso peço aos leitores mais capazes que me confirmem tal informação. Mas com ou sem esse “defeito”, Conan: O Bárbaro não entrega um resultado satisfatório, sendo apenas um filme errático.

Caio Viana é crítico de cinema e editor do blog Cinematrilha.

2 comentários:

  1. vixe, é tão ruim assim?

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  2. Nossa!!! Essa crítica foi perfeita!!!
    Mesmo percebendo todo esse desastre cinematográfico em detalhes, não conseguiria descrever tão bem quanto vc fez.
    Antes tivesse lido isso antes. Teria poupado 27 reais (já q infelizmente vi em 3D), além de tempo e saco (haja saco!).
    Depois de Conan, filmes de ação na linha medieval-mitológica-super-heroína-fantástica só em DVD (e olhe lá!).
    Parabéns pela crítica! 5 estrelas pra ela!

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