
Roteiro: Eric Heisserer e Jeffrey Reddick
Elenco: Nicholas D’Agosto, Emma Bell, Tonny Todd, Peter Friedkin, David Koechner e Jacqueline MacInnes Wood.

Por Caio Viana.
Quando, ao final da exibição, você sentir um gostinho de mais do mesmo na boca, não estranhe. É bem capaz que essa sensação invada seu corpo de maneira mais óbvia e você se encontre questionando se já não viu tal filme antes. Porém, não há motivo para espanto, porque você logo perceberá que, mesmo se tratando de um novo exemplar da franquia Premonição, esse é só mais um que insiste em repetir a fórmula estabelecida desde o primeiro, sem tirar nem pôr. Seja muito cauteloso também quanto ao 3D, já que ele tampouco fugirá da mesmice, se contentando em atirar “objetos” na tela desde os créditos iniciais. Se após esse vislumbre você ainda estiver acompanhando o filme, só poderei chegar a duas conclusões: ou você ainda não viu os exemplares anteriores, ou muito provavelmente é um jovem sádico e acéfalo que adora ver cabeças esmagadas e sangue jorrando sem qualquer propósito.
Na trama acompanhamos a perspectiva de Sam Lawton (Nicholas D’Agosto), o jovem da vez. É ele quem terá a visão premonitória de que seus amigos fenecerão num acidente em uma ponte, tentará desvendar o mistério que os cerca e os faz morrerem um a um e ousará protegê-los assim que as pontas forem amarradas. Nesse ínterim, o rapaz busca se entender com a ex-namorada, Molly Harper (Emma Bell) e ainda tem que lidar com um legista esquisito e sem graça (Tonny Todd), além de agüentar os acessos do amigo, Miles Ficher (Peter Friedkin) e as histerias dos coadjuvantes.
Roteirizado por Eric Heisserer, dono apenas de refilmagens como A Hora do Pesadelo e O Enigma do Outro Mundo, e Jeffrey Reddick, que tem na lista todas as prequências da série, não fica difícil compreender de onde brotou tanta criatividade para que esse enredo se afastasse dos outros. Se a história é apenas uma repetição de tudo que já vimos até aqui, sem que qualquer surpresa esteja à espreita do público, a coisa fica ainda pior quando os escritores resolvem inserir elementos óbvios que em nada auxiliam na criação da tensão. Vejam, por exemplo, o nome da empresa na qual os jovens trabalham, Presage (presságio), que além de ser pouco inventivo, é prejudicado pelo fato de jamais sabermos o que se produz ali. Mesmo tendo longas sequências dentro ou ao redor dos escritórios da Presage, é impossível depreender seu intuito e, principalmente, como ela é capaz de contratar jovens tão ineptos. O mesmo problema surge na placa de um caminhão de transporte de lenha, que se denomina Tagert, num evidente anagrama da palavra Target (alvo, em inglês), que surge quando Sam começa a ter sua premonição. Ademais, ainda temos que agüentar a inclusão da música “Dust In The Wind” toda vez que algum grande desastre está para ocorrer, como se já não fosse latente para o público a pretensão da obra após todos esses sinais.
Indo além, Heisserer e Reddick são capazes de inserir elementos na trama num dado momento, que resolvem ignorar por completo instantes depois. Tomemos a personagem Olivia Castle, interpretada por Jacqueline MacInnes Wood. Nas cenas iniciais, ela desponta como a típica “gostosa” do filme, que só terá a função de seduzir alguém e de deixar babando os adolescentes com espinhas das últimas filas, mas durante todo o restante da película, os roteiristas esquecem que conferiram tal personalidade a ela e Olivia passa a ser só mais uma coadjuvante prestes a morrer sem jamais exibir seus dotes ou sua prepotência novamente. O que pensar então de Dennis (David Koechner), o chefe dos escritórios da Presage? Primeiramente despontando como o chefe durão, ele logo rejeita a personalidade ao ter um diálogo com o detetive que investiga o acidente, propondo codinomes e agindo de forma totalmente infantil numa cena vergonhosa que desconstrói qualquer tentativa de traçar um perfil sobre aquela pessoa. Ainda contamos com a ilustre presença da persona misteriosa, Tony Todd no papel de um legista, que se resume a falar pausado, surgir em cena com frases sombrias e clichês, e desaparecer sem mais nem menos, sem que tenhamos o menor vislumbre de sua identidade ou função na trama.
Num determinado momento, seguimos Sam explicando aos amigos que ainda permanecem vivos que o legista estava em vários locais onde as mortes ocorreram, como também em um ginásio, onde o destino fez sua primeira vítima. É interessante notar, nesse ponto, o descuido dos produtores que, ao inserirem um diálogo assim, mal percebem que o rapaz, em momento algum, esteve presente no local a fim de notar a presença do legista. Isso implica numa falha gravíssima do roteiro ou, ainda pior, do montador Eric A. Sears, algo que não duvido, já que através de sua edição, encontramos momentos que pecam pela repetição extenuante ou mesmo pela falta de função na inclusão de certos planos. No acidente que se segue no ginásio, a vontade de estabelecer a tensão é tamanha que Sears cria uma sequência de planos-detalhe focando vários elementos do local, desde a barra onde treinam as ginastas até um parafuso solto e, além da repetição desnecessária, já que uma cena contemplativa talvez produzisse um efeito melhor e menos evidente, o montador ainda faz questão de focar elementos que em nada servirão para a composição da morte da atleta Candice.
O mesmo descuido pode ser visto na passagem em que Olivia fará uma cirurgia de correção de grau. Qualquer um que já tenha passado por um procedimento assim, e eu sou um deles, sabe que para tais casos há toda uma preparação no pré-operatório, que não ocorre na abrupta introdução da cena. Não vemos também o oftalmologista ser acompanhado por uma equipe médica, tampouco encontramos outros pacientes à espera no consultório, banalizando uma operação que é cercada de cuidados por médicos e enfermeiros da vida real. A pesquisa em torno dos ocorridos em Premonição 5 é tão canhestra que mesmo a grandiloquente sequência da visão de Sam soa artificial, sugerindo que danos estruturais teriam causado a queda de uma ponte quando, na realidade, sabemos que um acidente assim jamais ocorreria dessa maneira. Uma construção suspensa de tal proporção é ligada por cabos de aço e possui uma estrutura “maleável” a fim de suportar fortes ventos, impedindo que se parta como glacê de bolo de confeitaria.

Tudo se torna ainda pior com a intervenção da medíocre trilha sonora composta por Bryan Tyler, que insiste em avisar ao espectador, minutos antes, que alguém vai morrer, através de uma canção quase monocórdica, retirando qualquer possibilidade de sermos surpreendidos ou usarmos nosso cérebro para desvendar o próximo acontecimento. Além disso, Premonição 5 conta com um elenco fraquíssimo, saído diretamente das filmagens de Malhação e que parece pouco disposto a progredir, investindo em estereótipos. Até mesmo numa cena em que Sam precisa dizer “Posso entrar?”, o ator se mune de expressões que pouco condizem com uma pergunta tão natural, artificializando, inclusive, os momentos mais fáceis do personagem. E se o protagonista tem tanto carisma quanto uma pedra de gelo, o que dizer das tentativas de envolvimento entre esse e sua parceira romântica? O casal surge sempre tão apagado que é impossível entender como estiveram juntos em algum momento.
A direção nada inventiva de Steven Quale, que deveria ter aprendido mais com James Cameron antes de se libertar das amarras, prefere, inclusive, fazer uso de profundidade de campo pequena para criar um 3D mais efetivo. Com isso o cineasta “borra” quase todas as cenas de fundo ao longo do filme, não permitindo que o espectador saiba o que se passa ali e gerando uma artificialidade insuportável. Dessa forma, sendo incapaz de até mesmo criar um 3D que soe orgânico, Quale acaba por fazer um filme perfeito para o mês de setembro em que quase nenhuma produção de qualidade chega aos cinemas, encaixando-se perfeitamente ao cronograma de lançamentos descartáveis que, se divertirão os adolescentes sádicos e irrefreáveis dos dias de hoje, logo será felizmente esquecido.
Elenco: Nicholas D’Agosto, Emma Bell, Tonny Todd, Peter Friedkin, David Koechner e Jacqueline MacInnes Wood.
Por Caio Viana.
Quando, ao final da exibição, você sentir um gostinho de mais do mesmo na boca, não estranhe. É bem capaz que essa sensação invada seu corpo de maneira mais óbvia e você se encontre questionando se já não viu tal filme antes. Porém, não há motivo para espanto, porque você logo perceberá que, mesmo se tratando de um novo exemplar da franquia Premonição, esse é só mais um que insiste em repetir a fórmula estabelecida desde o primeiro, sem tirar nem pôr. Seja muito cauteloso também quanto ao 3D, já que ele tampouco fugirá da mesmice, se contentando em atirar “objetos” na tela desde os créditos iniciais. Se após esse vislumbre você ainda estiver acompanhando o filme, só poderei chegar a duas conclusões: ou você ainda não viu os exemplares anteriores, ou muito provavelmente é um jovem sádico e acéfalo que adora ver cabeças esmagadas e sangue jorrando sem qualquer propósito.
Na trama acompanhamos a perspectiva de Sam Lawton (Nicholas D’Agosto), o jovem da vez. É ele quem terá a visão premonitória de que seus amigos fenecerão num acidente em uma ponte, tentará desvendar o mistério que os cerca e os faz morrerem um a um e ousará protegê-los assim que as pontas forem amarradas. Nesse ínterim, o rapaz busca se entender com a ex-namorada, Molly Harper (Emma Bell) e ainda tem que lidar com um legista esquisito e sem graça (Tonny Todd), além de agüentar os acessos do amigo, Miles Ficher (Peter Friedkin) e as histerias dos coadjuvantes.
Roteirizado por Eric Heisserer, dono apenas de refilmagens como A Hora do Pesadelo e O Enigma do Outro Mundo, e Jeffrey Reddick, que tem na lista todas as prequências da série, não fica difícil compreender de onde brotou tanta criatividade para que esse enredo se afastasse dos outros. Se a história é apenas uma repetição de tudo que já vimos até aqui, sem que qualquer surpresa esteja à espreita do público, a coisa fica ainda pior quando os escritores resolvem inserir elementos óbvios que em nada auxiliam na criação da tensão. Vejam, por exemplo, o nome da empresa na qual os jovens trabalham, Presage (presságio), que além de ser pouco inventivo, é prejudicado pelo fato de jamais sabermos o que se produz ali. Mesmo tendo longas sequências dentro ou ao redor dos escritórios da Presage, é impossível depreender seu intuito e, principalmente, como ela é capaz de contratar jovens tão ineptos. O mesmo problema surge na placa de um caminhão de transporte de lenha, que se denomina Tagert, num evidente anagrama da palavra Target (alvo, em inglês), que surge quando Sam começa a ter sua premonição. Ademais, ainda temos que agüentar a inclusão da música “Dust In The Wind” toda vez que algum grande desastre está para ocorrer, como se já não fosse latente para o público a pretensão da obra após todos esses sinais.
Indo além, Heisserer e Reddick são capazes de inserir elementos na trama num dado momento, que resolvem ignorar por completo instantes depois. Tomemos a personagem Olivia Castle, interpretada por Jacqueline MacInnes Wood. Nas cenas iniciais, ela desponta como a típica “gostosa” do filme, que só terá a função de seduzir alguém e de deixar babando os adolescentes com espinhas das últimas filas, mas durante todo o restante da película, os roteiristas esquecem que conferiram tal personalidade a ela e Olivia passa a ser só mais uma coadjuvante prestes a morrer sem jamais exibir seus dotes ou sua prepotência novamente. O que pensar então de Dennis (David Koechner), o chefe dos escritórios da Presage? Primeiramente despontando como o chefe durão, ele logo rejeita a personalidade ao ter um diálogo com o detetive que investiga o acidente, propondo codinomes e agindo de forma totalmente infantil numa cena vergonhosa que desconstrói qualquer tentativa de traçar um perfil sobre aquela pessoa. Ainda contamos com a ilustre presença da persona misteriosa, Tony Todd no papel de um legista, que se resume a falar pausado, surgir em cena com frases sombrias e clichês, e desaparecer sem mais nem menos, sem que tenhamos o menor vislumbre de sua identidade ou função na trama.
Num determinado momento, seguimos Sam explicando aos amigos que ainda permanecem vivos que o legista estava em vários locais onde as mortes ocorreram, como também em um ginásio, onde o destino fez sua primeira vítima. É interessante notar, nesse ponto, o descuido dos produtores que, ao inserirem um diálogo assim, mal percebem que o rapaz, em momento algum, esteve presente no local a fim de notar a presença do legista. Isso implica numa falha gravíssima do roteiro ou, ainda pior, do montador Eric A. Sears, algo que não duvido, já que através de sua edição, encontramos momentos que pecam pela repetição extenuante ou mesmo pela falta de função na inclusão de certos planos. No acidente que se segue no ginásio, a vontade de estabelecer a tensão é tamanha que Sears cria uma sequência de planos-detalhe focando vários elementos do local, desde a barra onde treinam as ginastas até um parafuso solto e, além da repetição desnecessária, já que uma cena contemplativa talvez produzisse um efeito melhor e menos evidente, o montador ainda faz questão de focar elementos que em nada servirão para a composição da morte da atleta Candice.
O mesmo descuido pode ser visto na passagem em que Olivia fará uma cirurgia de correção de grau. Qualquer um que já tenha passado por um procedimento assim, e eu sou um deles, sabe que para tais casos há toda uma preparação no pré-operatório, que não ocorre na abrupta introdução da cena. Não vemos também o oftalmologista ser acompanhado por uma equipe médica, tampouco encontramos outros pacientes à espera no consultório, banalizando uma operação que é cercada de cuidados por médicos e enfermeiros da vida real. A pesquisa em torno dos ocorridos em Premonição 5 é tão canhestra que mesmo a grandiloquente sequência da visão de Sam soa artificial, sugerindo que danos estruturais teriam causado a queda de uma ponte quando, na realidade, sabemos que um acidente assim jamais ocorreria dessa maneira. Uma construção suspensa de tal proporção é ligada por cabos de aço e possui uma estrutura “maleável” a fim de suportar fortes ventos, impedindo que se parta como glacê de bolo de confeitaria.

Tudo se torna ainda pior com a intervenção da medíocre trilha sonora composta por Bryan Tyler, que insiste em avisar ao espectador, minutos antes, que alguém vai morrer, através de uma canção quase monocórdica, retirando qualquer possibilidade de sermos surpreendidos ou usarmos nosso cérebro para desvendar o próximo acontecimento. Além disso, Premonição 5 conta com um elenco fraquíssimo, saído diretamente das filmagens de Malhação e que parece pouco disposto a progredir, investindo em estereótipos. Até mesmo numa cena em que Sam precisa dizer “Posso entrar?”, o ator se mune de expressões que pouco condizem com uma pergunta tão natural, artificializando, inclusive, os momentos mais fáceis do personagem. E se o protagonista tem tanto carisma quanto uma pedra de gelo, o que dizer das tentativas de envolvimento entre esse e sua parceira romântica? O casal surge sempre tão apagado que é impossível entender como estiveram juntos em algum momento.
A direção nada inventiva de Steven Quale, que deveria ter aprendido mais com James Cameron antes de se libertar das amarras, prefere, inclusive, fazer uso de profundidade de campo pequena para criar um 3D mais efetivo. Com isso o cineasta “borra” quase todas as cenas de fundo ao longo do filme, não permitindo que o espectador saiba o que se passa ali e gerando uma artificialidade insuportável. Dessa forma, sendo incapaz de até mesmo criar um 3D que soe orgânico, Quale acaba por fazer um filme perfeito para o mês de setembro em que quase nenhuma produção de qualidade chega aos cinemas, encaixando-se perfeitamente ao cronograma de lançamentos descartáveis que, se divertirão os adolescentes sádicos e irrefreáveis dos dias de hoje, logo será felizmente esquecido.
Caio Viana é crítico de cinema e editor do blog Cinematrilha.
Na verdade o Sam encontra o legista no ginásio sim. Logo que ele chega e senta junto ao Peter, ele olha para o lado e vê que o legista está lá.
ResponderExcluirNão que o filme melhore por isso, mas vale a correção.