Papo de Cinema: Por que tanto remake de filme Hollywood?

Está ficando cada vez mais difícil de aturar as refilmagens sem noção de filmes estrangeiros por Hollywood, a febre que se intensificou com as refilmagens de filmes de terror oriental, agora alcança filmes de de todos os cantos do mundo e de todos os gêneros, se tornou uma prática tão comum que já foi até endossada pela a academia que premiou Os Infiltrados como o Melhor Filme do Ano, um ótimo filme, mas que não traz nada de diferente do excelente original que na verdade é até mais enxuto e com um final mais apropriado.

Essa semana foi anunciada a versão americana do maravilhoso argentino O Segredo dos Seus Olhos, um filme tecnicamente perfeito como eu já falei nesse post, um roteiro impecável e com atuações brilhantes de todo o elenco, mas principalmente do comediante Guillermo Francella e lógico do protagonista Ricardo Darín, um dos melhores atores da atualidade. Mas para Hollywood o filme tem um defeito gravíssimo, é falado em Espanhol, e somente isso justifica para os produtores americanos refilmá-lo.

O Segredo dos Seus olhos, a mais nova vítima.

A barreira do idioma é um problema sério, se no Brasil muita gente prefere ver filme dublado, com a desculpa de que não dá para ler e prestar atenção no filme ao mesmo tempo, imagine num país onde a população é extremamente etnocêntrica e egocêntrica, prestar atenção em um filme falado em espanhol ou japonês é praticamente um atentado aos bons costumes.

Então entra outra questão, por que apenas não dublar os filmes? Como exemplo, posso citar as duas produções de Stephen Chow, o excelente Shaolin Soccer e o ótimo Kung-Fusão, eles foram lançados nos EUA dublados e com um trilha mais americanizada e foram muito bem nas bilheterias, principalmente o segundo, do ponto de vista artístico a dublagem pode não ser a melhor das opções, mas é muito mais honesta do que descartar o trabalho inteiro de um cineasta e refazê-lo como se a obra fosse menor.

A versão dublada de Kung-Fusão foi um sucesso nos EUA.

O motivo dos americanos não investirem na dublagem dessas produções, pode ser explicado pela anedota do programa espacial (que pode muito bem ser verdade) que diz o seguinte, nas primeiras viagens espaciais tripuladas, a NASA encontrou um problema, as canetas falhavam na gravidade zero, então a agência gastou 2 milhões de dólares no desenvolvimento de uma caneta que não só funcionava em gravidade zero, como de cabeça para baixo, dentro da água, sobre altíssimas pressões e outras super funções. Já a União Soviética se deparou com o mesmo problema, eles resolveram usando lápis.
Os norte-americanos são megalomaníacos, e por isso não conseguem vislumbrar caminhos mais fáceis, por isso refilmam o que não precisa ser refilmado gastando dezenas de vezes mais do que gastariam apenas com uma boa campanha de marketing por achar que podem fazer melhor, esse é o principal motivo e não a falta de criatividade como muitos pensam, idéias originais tem aos montes, o que existe é o medo de apostar em material novo.
Existem casos em que o remake é até justificado que é quando existe a transposição do conceito original para uma realidade diferente, como é o caso de Sete Homens e um Destino baseado em Os Sete Samurais, o drama japônes e o faroeste americano tem a mesma premissa, mas a refilmagem ganhou vida própria.

Sete Homens e um Destino, um remake justificado.

Só que a maioria é completamente inútil, e eu posso ser vaiado por isso, mas até Os Inflitrados entra nesse quesito, o elenco, a direção e a montagem são espetaculares, mas não apresenta nada de novo com relação ao original Conflitos Internos, Scorcese inclusive refilmou quadro a quadro as melhores seqûencias, se ele tivesse criado um material novo em cima do conceito original seria melhor, a única coisa nova e positiva foi o personagem de Mark Walhbergh, mas o que me irritou foi que o filme acabou levando os prêmios que o original merecia ganhar.

Foi justo Os Infiltrados receber o Oscar sendo um cópia de Confliots Internos?

Vamos a um breve lista das refilmagens mais inúteis dos últimos anos:

Quarentena - Refilmagem de REC que ainda faz o desserviço de revelar o final no trailer.
Vannila Sky - Cameron Crowe fez uma verdadeira confusão, e o filme passou longe da elegância de Abre los Ojos de Alejandro Amenábar.
O Grito - que foi refilmado inclusive pelo mesmo diretor do original que já não era lá essas coisas, Ju-On
Imagens do Além - Refilmagem de Espíritos - A Morte está ao seu lado, e o pior quando assisti a esse troço nem sabia que era refilmagem quando percebi, ôpa! Eu já vi isso em algum lugar.
O Olho do Mal - refilmagem capenga do aterrorizante original The Eye.
Uma Chamada Perdida - Sugado de Chakushin Ari. Completa a lista das piores refilmagens de terror oriental, dos quais eu só gostei de duas, O Chamado e Água Negra, ambos do mesmo nível do original.
Funny Games - Também refilmado quadro a quadro pelo diretor do original Michael Haneke.
Táxi - Refilmagem do Francês que também não era grande coisa.
Godzilla - O que deu na cabeça de Roland Emerich para transformá-lo num ser hermafrodita, pegou mal para c...
Morte no Funeral - É ainda mais sem sentido porque o original lançado apenas três anos antes também é falado em inglês e também teve participação americana na produção, foi refilamdo apenas para uma versão mais comercial com Chris Rock.
Deixa ela Entrar - Ainda não estreou, mas definitvamente o filme sueco não precisava passa por isso.

E eu nem citei no post as refilmagens de filmes da própria casa, nem a nova mania dos Reboots de filmes de super-heróis: O Incrível Hulk, X-Man: First Class, Homem-Aranha e até O Quarteto-Fantástico já terá um novo recomeço. Isso pode esperar por outro momento.

O que mais pode ser lembrado, ou melhor lamentado, quanto a refilmagens de filmes estrangeiros, graças a deus, desistiram de refilmar OldBoy, espero que desistam também de O Segredo dos Seus Olhos.